PORTFOLIO: EXPOSIÇÃO BIBLIOGRÁFICA E DOCUMENTAL «ANTÓNIO CÂNDIDO FRANCO: DESEMBARQUE DE UM ESCRITOR NO MAR DE SESIMBRA»

16-05-2015 17:52

A exposição bibliográfica e documental António Cândido Franco: Desembarque de um Escritor no Mar de Sesimbra, patente ao público na Biblioteca Municipal de Sesimbra desde 5 de Maio, termina hoje. Para memória futura, e acompanhado dos índices das peças expostas em cada núcleo e respectivas legendas, publicamos um extenso portfolio desta iniciativa, que assinalou a apresentação, em Sesimbra, no passado dia 9, de O Estranhíssimo Colosso - Uma Biografia de Agostinho da Silva, o mais recente livro do autor de Arte de Sonhar, membro fundador do Projecto António Telmo. Vida e Obra, na abertura das Tardes Télmicas 2015. Dividida por cinco núcleos, a exposição ofereceu uma panorâmica da vasta obra do escritor, deu a conhecer os seus processos criativos, através do caso, surpreendentemente exemplar, de O Mar o Marão, e privilegiou a relação de amizade e de convívio espiritual entre António Cândido Franco e António Telmo, revelando, a partir do espólio deste último, correspondência vária e algumas dedicatórias manuscritas, uma das quais datada de Sesimbra. Junto à exposição, estiveram em destaque e à consulta muitos dos títulos de Cândido Franco que integram o fundo bibliográfico da Biblioteca Municipal de Sesimbra.

PAINEL DE ABERTURA

 

Nascido em 1956 em Lisboa, as primeiras memórias que António Cândido Franco guarda de Sesimbra chegam-lhe da infância. São recordações de veraneio, na praia, na companhia de sua mãe, numa época em que as distâncias na capital da Arrábida tomavam proporções gigantescas na alma do biógrafo de Agostinho da Silva. Por essa altura, ainda O Estranhíssimo Colosso não regressara do Brasil para eleger o apartamento na falésia de Argéis, lugar de contemplação, como a sua segunda morada. Mas já é possível que o pequeno Cândido Franco se tenha então cruzado com António Telmo na marginal de Sesimbra sem o saber.

Com o autor da História Secreta de Portugal conviveu António Cândido Franco durante vinte e três anos. Uma parte da sua obra não poderia escapar ao influxo do pensamento de Telmo e dos mestres que o precederam na cadeia áurea da Escola Portuense, de Sampaio Bruno e Guerra Junqueiro a Álvaro Ribeiro e José Marinho. Professor de Literatura e Cultura portuguesas há um quarto de século na Universidade de Évora, profundo conhecedor da obra de Teixeira de Pascoaes e do movimento surrealista, escritor multímodo que da poesia e do ensaio deriva para a ficção e para o teatro, director da revista de cultura libertária A IDEIA, António Cândido Franco é hoje uma das mais destacadas figuras da cultura portuguesa. Membro fundador do Projecto António Telmo. Vida e Obra, prefaciou recentemente o II Volume das Obras Completas de António Telmo, Gramática Secreta da Língua Portuguesa precedida de Arte Poética, bem como Agostinho da Silva em Sesimbra, de Pedro Martins e António Reis Marques, e Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo, de João Ferreira, Pedro Martins e Rui Lopo, três dos títulos publicados em 2014 no âmbito do Projecto.

Depois de muitas presenças na Piscosa, não raro sob a égide de António Telmo, para intervenções em palestras, colóquios e lançamentos, ou para simplesmente conviver com o filósofo, o escritor desembarca de novo em Sesimbra, na Biblioteca Municipal, a 9 de Maio, no início das Tardes Télmicas de 2015, para a apresentação de O Estranhíssimo Colosso – Uma Biografia de Agostinho da Silva, obra monumental há pouco saída a lume, onde o seu biografado se cruza frequentemente com o compadre Telmo, Rafael Monteiro, António Reis Marques ou João dos Santos, sem esquecer os inevitáveis gatos da Piscosa, símbolo maior do privilégio sesimbrense, que, à distância de seis léguas, reclamam o alimento da sua bondade franciscana. Eis o ponto de partida para uma exposição, que, pela primeira vez, nos oferece uma perspectiva panorâmica da obra singular de António Cândido Franco.  

NÚCLEO I. POESIA, LIBERDADE & AVENTURA

 

António Cândido Franco, Murmúrios do Mar de Peniche

Lisboa: Távola Redonda, 1977

 

António Cândido Franco, Conto de Inverno

Lisboa: ed. do autor, 1983

 

António Cândido Franco, Na Renúncia do Coração

Lisboa: ed. do autor, 1984

 

António Cândido Franco, Matéria Prima

Lisboa: ed. do autor, 1986

 

António Cândido Franco, Poesia, Liberdade & Aventura

Lisboa: Sementeira, 1986

 

António Cândido Franco, Arte Régia

Lisboa: ed. do autor, 1987

 

António Cândido Franco, Panfleto Contra Portugal

Lisboa: Arauto / Jorge Cabrita, 1989

 

António Cândido Franco, A Ideia de Deus e o Pensamento Libertário

Separata do n.º 55 (Inverno de 1991) da Revista A IDEIA

 

António Cândido Franco, Teoria da Literatura na Obra de Álvaro Ribeiro

Lisboa: Poetas Lusíadas, 1993

 

António Cândido Franco, A Epopeia Pós-Camoniana de Guerra Junqueiro

Lisboa: Gazeta de Língua Portuguesa, 1996

 

De certo modo, a poesia é o capítulo inicial da obra de António Cândido Franco, marcando a sua produção literária nos anos 80. O autor publicará em 2002 as Estâncias Reunidas, título retrospectivo da colectânea que, até hoje, parece ter posto um ponto final neste aspecto menos atendido da sua criação. Do final daquela década, e sempre a par da atenção constante que irá dedicar a Pascoaes, vem o diálogo ensaístico, a partir de uma perspectiva libertária compreensiva, com alguns dos vultos maiores da Escola Portuense: Sampaio Bruno, Guerra Junqueiro e Álvaro Ribeiro.  

NÚCLEO II. O MAR E O MARÃO: VIAGEM À OFICINA DE UM ESCRITOR

 

Convite para a conferência subordinada ao tema “O Mar e o Marão”, proferida por António Cândido Franco no IADE, em 20 de Junho de 1989.

 

Recorte de imprensa | Reportagem crítica do jornalista António Cabrita, no semanário Expresso, sobre a conferência de António Cândido Franco

 

Caderno com o original manuscrito do livro O Mar e o Marão

 

Provas tipográficas do livro O Mar e o Marão

 

Maqueta do livro O Mar e o Marão

 

António Cândido Franco, O Mar e o Marão

Lisboa: Jorge Cabrita editor, 1989

 

A generalização do uso da informática no ofício da escrita remeteu o mistério da criação para o segredo do disco rígido. Neste sentido, O Mar e o Marão, de 1989, é bem um livro histórico de António Cândido Franco. Tudo começou com uma conferência, proferida nesse ano no IADE, a convite do seu Director, o filósofo António Quadros. Ditas de viva voz, as palavras ouvidas geraram controvérsia na imprensa, à semelhança do que agora verificamos suceder com O Estranhíssimo Colosso – Uma Biografia de Agostinho da Silva. Não se fica indiferente a Cândido Franco. O autor decide entretanto desenvolvê-las por escrito, em volume cuja edição, contra todas as aparências, é afinal uma edição de autor. Assim se revela o editor António Cândido Franco, aliás Jorge Cabrita. Desse tempo já distante chegaram-nos felizmente o caderno com o manuscrito original, as primeiras provas tipográficas e a maqueta de um livro em que Bruno e Pascoaes são de novo as principais referências. Visitemos a oficina do escritor.

NÚCLEO III. AO ANTÓNIO TELMO, SINAL DE RECONHECIMENTO…

 

António Cândido Franco, Teoria e Palavra

Lisboa: Átrio, 1991

 

António Cândido Franco, Eleonor na Serra de Pascoaes

Lisboa: Átrio, 1992

 

António Cândido Franco, Arte de Sonhar – 87 Sonhos com Teixeira de Pascoaes

Évora: Casa do Sul, 2001

 

Convite enviado a António Telmo por António Cândido Franco para a apresentação do livro Arte de Sonhar – 87 Sonhos com Teixeira de Pascoaes

 

Bilhete-postal de António Cândido Franco para António Telmo, de 1 de Abril de 1998

 

Bilhete-postal de António Cândido Franco para António Telmo, de 4 de Setembro de 2002

 

Bilhete-postal de António Cândido Franco para António Telmo, de 14 de Setembro de 2007

 

António Cândido Franco conheceu António Telmo em 1987, em Vila Viçosa. Uma amiga comum, Fiama Hasse Pais Brandão, foi quem os apresentou. Desse encontro nasceu a amizade e um intenso convívio espiritual. Logo em 1991, Cândido Franco dedica a Telmo o seu livro Teoria e Palavra, nos mesmos, exactos termos em que este dedicara a Álvaro Ribeiro a sua Arte Poética. No ano seguinte, o livro Eleonor na Serra de Pascoaes evoca, pelo título e pelo propósito hermenêutico de Marános, de Teixeira de Pascoaes, o Desembarque dos Maniqueus na Ilha de Camões, de Telmo. Provável, a assunção implícita de uma relação discipular… Em 2001, António Telmo posfacia (e apresenta em Évora) Arte de Sonhar – 87 Sonhos com Teixeira de Pascoaes. Sob a forma de carta, meio privilegiado de comunicação entre os dois espíritos... 

NÚCLEO IV. DOS PECADOS DA RAINHA SANTA ÀS HERESIAS DE CAMÕES

 

António Cândido Franco, recensão a Filosofia e Kabbalah, de António Telmo

Colóquio Letras, n.º 120, Abril-Junho de 1991

 

António Cândido Franco, A Rainha Morta e o Rei Saudade

Lisboa: Ésquilo, 2003

 

António Cândido Franco, Os Pecados da Rainha Santa Isabel

Lisboa: Ésquilo, 2010

 

António Cândido Franco, Autos do Fogo Analógico

Évora: Licorne, 2012

 

António Cândido Franco, “O camonismo de António Telmo”

Suroeste, n.º 2, Badajoz, 2012

 

António Cândido Franco, Bilhete-postal para António Telmo, de 26 de Abril de 2010

 

Dedicado estudioso de Telmo, António Cândido Franco é um dos principais divulgadores da sua obra. Logo em 1991 assina importante recensão a Filosofia e Kabbalah na Colóquio Letras. Em 2012, já depois da partida do mestre, dedica, na revista espanhola Suroeste, um justíssimo ensaio à sua hermenêutica de Camões, o vate herético que, aqui, representa também o apelo da História que Cândido Franco tem revelado nos seus romances e no seu teatro. A Rainha Morta e o Rei Saudade, revisitação ficcional do mito de Pedro e Inês, foi apresentado por Telmo, no seu lançamento, em Lisboa. Os Pecados da Rainha Santa Isabel trazem dedicatória impressa: “Para a memória de António Telmo (1927-2010), gibelino e morador do castelo de Estremoz”. Estes romances, bem como os Autos do Fogo Analógico, livro que os prolonga em teatro, foram abordados em Sesimbra, onde, em Maio de 2010, na última intervenção pública de Telmo, Cândido Franco lhe apresenta o livro Luís de Camões.  

NÚCLEO V. POLÉMICA SEM GUERRA: PASCOAES E O SURREALISMO

 

António Cândido Franco, A Literatura de Teixeira de Pascoaes

Lisboa: INCM, 2000

 

António Cândido Franco, Trinta Anos de Dispersos sobre Teixeira de Pascoaes

Lisboa: INCM, 2014

 

António Telmo, Carta para António Cândido Franco, de 8 de Março de 2002

 

Teixeira de Pascoaes, Londres. Cantos Indecisos. Cânticos

Lisboa: Assírio & Alvim, 2002

 

António Cândido Franco, Viaje a Pascoaes

Mérida: Editora Regional de Extremadura, 2009

 

António Cândido Franco, Lisboa a un tirón de Setúbal

Baluerna – Cuadernos del Viajero, n.º 12, 2001

 

António Cândido Franco, O Surrealismo Português e Teixeira de Pascoaes

São Paulo: Escrituras, 2013

 

António Cândido Franco, Bilhete-postal para António Telmo, de 11 de Novembro de 2009

 

António Cândido Franco estuda Teixeira de Pascoaes há quatro décadas, sendo hoje o seu maior especialista, com obra publicada no Brasil e em Espanha, de onde em 2001 surge o convite para redigir um dos Baluerna – Cuadernos del Viajero. A Pascoaes dedicou aliás a dissertação de doutoramento, publicada em 2000, outros livros e opúsculos e inúmeros artigos. Deve-se-lhe ainda a edição literária de alguns títulos nas Obras de Teixeira de Pascoaes que, desde 1984, a Assírio & Alvim vem publicando. Neste âmbito, por seu intermédio, António Telmo prefacia, em 2002, Londres. Cantos Indecisos. Cânticos. As divergências com Telmo a respeito do mago do Marão constituem motivo fecundo de diálogo entre as duas vozes, por vezes com traços de “polémica sem guerra”, notadamente no que toca às relações de Pascoaes com o surrealismo. 

NÚCLEOS III E IV

NÚCLEOS I E II