UNIVERSO TÉLMICO. 12

21-04-2015 10:30

Depoimento sobre Agostinho da Silva*

Ruy Ventura

 

Não tinha ainda vinte anos quando me carteei com Agostinho da Silva. O intercâmbio epistolar não durou mais do que seis meses. Aprendiz de professor que eu era e, sobretudo, noviço na irmandade (por vezes desavinda) dos que escrevem poesia, os seis bilhetes e pequenas cartas que dele recebi – acompanhados por um número apreciável de “folhinhas”, com poemas seus, traduções de poesia estrangeira e cartas-circulares (que mais poderiam chamar-se “sagitárias”, sendo elas setas de saber) – foram, todavia, instrumentos paráclitos (se entendermos este adjectivo como sinónimo de “espicaçador” espiritual, conforme nos ensinou, com rara penetração, o grande poeta inglês Gerald Manley Hopkins). Obrigaram-me a dar crescimento à semente que em mim havia. Quanto devo a Agostinho por isso! Nunca cheguei a privar com ele. Por timidez e por distância física, nunca correspondi ao seu convite. Perdi? Ganhei? Só Deus sabe…

Se hoje me distancio de várias facetas do seu ideário, reconheço ainda assim neste estranhíssimo colosso (como diria o seu grande biógrafo, António Cândido Franco) um dos maiores escritores e pensadores que Portugal houve na sua História. Por isso mesmo, recorrendo a uma parte do seu pensamento, me servi da sua inspiração na concepção, com Nuno Matos Duarte, do projecto da Devir, revista ibero-americana de cultura cujo primeiro número sairá até final do Verão.

Tratando-se de textos além da circunstância aqueles que me escreveu, na sua caligrafia quantas vezes a roçar a ilegibilidade, julgo útil voltar a divulgá-los, depois de terem visto a luz da imprensa pela primeira vez nas actas do colóquio Agostinho da Silva e o Espírito Universal, ocorrido em Sesimbra a 30 de Setembro de 2006. Junto-lhes agora algumas notas, brevíssimas, para que alguns passos sejam melhor entendidos.

 

Vila Nogueira, cerca de frei Agostinho da Cruz,

21 de Abril de 2015

____________

* Título da responsabildiade do editor.