UNIVERSO TÉLMICO. 24

26-05-2015 17:17

CARTAS DE AGOSTINHO DA SILVA PARA RUY VENTURA. 06


 

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[carimbo do correio – Lisboa, 22.9.1993; cartão]

 

            21.9.93

 

            Querido Amigo

            Espero que, passado todo este tempo, já não haja mais, com o internamento de seu Pai, os problemas de que falou (9). Toda a religião que vale é apenas a crença que se pode ter seguido que não é demonstrável por matemática, e que é, quanto a mim, a Credibilidade Absoluta, aquilo que é totalmente o de que nós todos temos uma centelha, o sermos todos criadores, mais ou menos apreciados, o que não importa; seja como for criemos. E para o enjoo que tanta vez o diário traz, o mesmo remédio que se usa a tudo [?]: Olhar o horizonte, e escutar o grito da chegada, mesmo que o não haja. O grande abraço do A. (10)

 

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Notas de Ruy Ventura:

 

(9) Referência a Joaquim Baptista Ventura, meu pai, e ao seu internamento nos hospitais de São José e da Cruz Vermelha, ao longo de várias semanas, devido a um acidente de trabalho ocorrido na Sociedade Corticeira Robinson, de Portalegre, onde então trabalhava como operário.

(10) Esta foi, de facto, a última carta que recebi de Agostinho da Silva. Depois dela, chegaram a minha casa, então na aldeia de Carreiras (Portalegre), apenas algumas das suas “folhinhas”, pelas quais esperava ansiosamente. Recordo que a derradeira correspondência da minha parte terá sido um postal ou cartão a desejar-lhe as boas festas natalícias. Tudo isto há-de estar guardado no seu espólio, se o tempo ou alguém não se encarregou de lhe dar descaminho.